13 de abr. de 2012

Agora a história e o começo de verdade

Há um tempo atrás publiquei a história das meninas em um blog que eu considero maravilhoso e que muito me ajudou a curar as minhas feridas. É lógico que muita coisa não vou conseguir esquecer. E, por outro lado, não quero. Tudo, tudinho que aconteceu, bom ou ruim, feliz ou triste, foi o que construiu a nossa história, tijolo por tijolo. Mas eu tive que resumir para poder publicar lá. E eu detesto resumir. E adoro falar um monte... É por isso que vou começar a contar agora a 'versão sem cortes do diretor'.

Bem, eu e o Marcelo estamos juntos desde 2008. Nos conhecemos no primeiro dia de trabalho, dos dois. Como o treinamento ainda não estava preparado colocaram o grupo novo para ficar conversando durante uma semana inteirinha, 8 horas por dia. Descobrimos uma infinidade de coisas em comum e acho que só não começamos antes porque tínhamos algumas coisinhas a resolver ainda. Mas a demora foi de menos de 1 mês... Sabem amor à primeira vista? Foi isso. O tempo foi passando, decidimos morar juntos e com 1 ano e 2 meses de namoro juntamos nossos corações embaixo do mesmo teto. E o papo de sermos pais era recorrente, demais. Sempre conversávamos sobre filhos, somos doidos por crianças. E sempre discutíamos sobre como seria a criação se tivéssemos gêmeos: nomes diferentes, nunca vestir com a mesma roupa, mesma sala na escola...

O assunto de gêmeos era meio natural para nós, o Marcelo tem um irmão gêmeo (o tio Dan) e, apesar de isso não significar nada, porque gêmeos dizigóticos como eles só veem da família da mãe, não poderia deixar de ser uma 'possibilidade' nas conversas. Além disso, eu sempre fui doida para ter gêmeos, ainda não sei explicar o porquê. Era uma coisa maior que eu, sempre que eu dormia e sonhava, sonhava que tinha filhos gêmeos. SEMPRE.

Com 4 meses de casamento 'decidimos' começar a tentar. Digo 'decidimos' porque minha receita para o anticoncepcional caducou e eu não voltei na minha GO e meio que ficou por isso mesmo, se vier neném veio, se não vier, tudo bem também. Cinco meses depois o tão desejado positivo surgiu! Teríamos nossa família! Agora a torcida por gêmeos passou para a família, tanto a minha quanto a dele. Todo mundo me perguntava: “Será que são dois?” “Vai que vem dois aí?” e eu sempre na defensiva: “ Não gente, capaz, parem com isso!” Até o meu marido virou pra mim e disse: “Pare de negar, vai que são dois mesmo, aí vão ficar magoados com a mãe não querendo eles!”. Mas minha posição na defensiva era mais por proteção. E se fosse um só? Eu ficaria desiludida? Eu estava feliz; podia ser um bebê só! rssss

Lógico que existiam alguns 'indicativos' de que não era só um bebê... eu comecei a sentir os sintomas da gravidez uma semana antes do atraso, muito cedo, e só fui fazer o exame de BetaHCG com 10 dias de atraso... Sei lá, me deu uma coisa, um medo de ser mãe... parecia que o sonho era tão real e palpável que um receio surgiu... Quando fiz o exame a mocinha colocou como urgente, para sair às 22h daquele dia mesmo, mas nós não tínhamos internet em casa. E agora? Pedir para os meus pais é que eu não ia, não queria criar falsas expectativas neles e nem deixar claro que estávamos tentando, ninguém sabia, na verdade. O jeito foi ligar para a Ju, que estava lááá no Rio, para ela ver para a gente. Foi ali, naquele momento, que nasceu a dinda das meninas. E também a primeira vez que eu ouvi alguém dizer que 'só pode ser dois, Roberta". Os exames estavam indicando que os hormônios estavam muito altos... sinal de duas placentas... A barriguinha começou a arredondar também, mas a moça aqui é meio cheinha, então foi lógico pensar que eu só engordei um poquinho...
E lá fomos nós para o primeiro ultrassom, com 8 semanas. Quando a imagem apareceu, antes mesmo da médica falar qualquer coisa, eu vi os dois saquinhos! Comecei a chorar, eram dois! O Marcelo não entendeu nada, achou que tinha algo errado. Imagina, a esposa começa a chorar do nada e a médica vira, com uma cara de paisagem e diz: “Eu tenho uma notícia pra dar”. Depois, ele me contou que entendeu: “Eu tenho uma MÁ notícia pra dar”. Pausa e com cara de paisagem: “São dois”. Era o momento mais feliz da minha vida e ela me dá a notícia como se fosse um pesar? A médica me explicou que um dos embriões poderia regredir porque o tamanho dele e do saco gestacional eram menores, claro que isso é uma realidade, mas não gostei do tom dela e troquei de ultrassonografista. Na hora de comunicar à família foi aquela festa. Na família do Ma os últimos gêmeos eram ele e o irmão, e na minha fazia um bom tempo que não vinham gêmeos. Eu e o Marcelo ficamos radiantes, em 9 meses íamos dobrar a família!
Comecei a tomar progesterona para não perder os bebês e me foi permitido pouco esforço. O Marcelo e toda a família me achavam uma exagerada porque eu não queria andar muito nem fazer o serviço doméstico, mas o medo de perder os meus bebês era grande e eu não queria dar chance ao azar. Com 9 semanas tomei meu primeiro susto. Comecei a ter dores fortes nas costas (no meio do casamento da Rogéria! O casamento foi lindo, mas uma tortura!) e embaixo da barriga e os exames de rotina acusaram uma infecção urinária. Quando eu, inocente, perguntei para a minha médica quais os riscos, ela placidamente respondeu: aborto. Tomei antibiótico, a infecção regrediu e não surgiu mais.
O maior problema, agora, é que a gente morava lá onde Judas já nem se lembrava de quando tinha botas. Eu pegava 4 ônibus para ir e mais 4 para voltar do trabalho. Todos cheios, socados. Em dias de muita sorte eu ia sentada em 2 ou 3 deles. Como é que eu ia fazer com uma gravidez de risco? Antes da barriga aparecer ninguém me daria lugar e depois de grande como é que eu ia batalhar para entrar no ônibus sem me machucar? Decidimos nos mudar e conseguimos um apartamento muito bom, com elevador e um ponto de ônibus na frente. Se não fosse isso acredito que teria parado de trabalhar com umas 15 semanas no máximo.
Na ecografia de 13 semanas tomei meu segundo susto, a dopplervelocimetria acusou presença de fluxo reverso no ducto venoso no bebê 2, que pode estar associado a anomalias genéticas, mas como a translucência nucal deu normal, a médica achou melhor repetir o exame em 15 dias e me tranquilizar, já que a presença do fluxo isolado poderia não ser nada. Como os fetos tinham uma diferença de tamanho de 2 dias, dentro do normal para gemelares, eu fui autorizada a fazer esforço e parar com a progesterona. Com 16 semanas veio a notícia de que seriam duas meninas! O bebê 1 era a Carol e o bebê 2 a Beatriz! E também veio o terceiro susto. A Beatriz cresceu o relativo a 2 semanas e não a 3 semanas, como era o esperado. Alguma coisa estava errada. Àquela altura não havia como saber o que estava acontecendo. Havia o fluxo reverso, mas só de posse desse dado a médica não tinha como tirar conclusões e os outros parâmetros estavam normais. Para tudo. Como não tínhamos como saber o que estava havendo, a médica me orientou a não fazer qualquer esforço, apenas o mínimo necessário, e dessa vez tive apoio incondicional do Marcelo. Ele até ficava bravo comigo quando eu levantava para pegar alguma coisa. Que eu pedisse a ele, oras.
Mas agora que começaram os sustos eles não pararam mais. Todo ultrassom mostrava que a Beatriz crescia pouco. Eu, o Marcelo e minha médica conversávamos sobre parto prematuro caso o útero não fosse mais um ambiente seguro para as bebês, e a minha médica disse que tentaríamos segurar pelo menos até a semana 28. Acho que foi nessa altura que meu mundo caiu. Antes ele estava só desmoronando, mas eu ia lá, pesquisava tudo o que podia e o que não podia na internet e me acalmava. Ouvir e constatar pela primeira vez "Roberta, as chances de elas serem prematuras é grande." foi muito dolorido. Meus sonhos com minhas meninas começarem a se mesclar com imagens delas na UTI foi aterrador. Mas ainda concentrava forte meus pensamentos em 'não, isso não vai acontecer".

Com 22 semanas descobrimos a possível causa do crescimento restrito: AUU, artéria umbilical única. O cordão umbilical dos bebês deve ter duas artérias e uma veia, mas o cordão umbilical da Beatriz tinha apenas uma artéria. Quais as consequências? Poderia ser apenas a AUU isolada e o único problema seria o tamanho do bebê, mas em geral a AUU está associada a alterações cromossômicas, disfunções renais, cardíacas etc... Além disso a placenta não havia sido bem implantada, então o fluxo sanguíneo que já era baixo por conta da AUU era menor ainda por conta da placenta afilada e mal implantada. E ainda esse exame acusou um osso nasal hipoplásico, ou seja, menor do que deveria ser, com n anomalias associadas ou poderia ser apenas consequência dela ser um bebê pequeno... Eu descartei uma amniocentese por causa do risco de aborto. Saber de alguma anomalia cromossômica não valia o risco de perder minhas meninas.

Eu comecei a ficar bastante ansiosa, ainda trabalhava indo e voltando de ônibus e comendo um monte para desestressar, engordei 4 quilos em um mês, tomei um pito da médica e pedi para parar de trabalhar. Afinal, a Carol sempre se desenvolveu bem, como se fosse um bebê único, as ecos para ela eram praticamente de “bonito”... rssss Mas a Beatriz continuava crescendo pouco. Com 23 semanas eu entrei em repouso relativo de verdade, deitava somente do lado direito porque a placenta da Beatriz estava do lado esquerdo e assim eu facilitava o fluxo sanguíneo para ela. A Carol aguentou bravamente ser espremida, e u virava só um pouquinho pra esquerda e já voltava para a direita. Exames complementares descartaram grandes anomalias, bem como riscos cardíacos e renais, o que foi um alívio.

Com 30 semanas o
utro susto: a placenta da Beatriz estava amadurecendo rápido. Já estava no grau II-A, e se amadurecesse demais, a minha bebê poderia parar de receber alimento. As coisas se mantiveram dessa forma até as 32 semanas; a Carol muito bem, a Beatriz dando sustos e a minha saúde ótima. Até que eu desenvolvi PUPP, Pápulas Urticadas Pruriginosas da Gravidez. O meu corpo inteiro ficou com um “grosseirão” e bem vermelho. Além disso uma coceira horrível tomou conta de mim. Eu entrei em desespero. Chorava o dia inteiro. Fui parar em um pronto-socorro obstétrico onde foi constatada a alergia e tomei duas injeções de corticoide que serviram não só para mim, para me ajudar a melhorar da alergia mas também para elas, para ajudar a desenvolver seus pulmõezinhos. Melhorar muito a coceira não melhorou, mas as in flamações na pele diminuíram, como consolo os médicos me avisaram que com o parto a alergia iria embora. E eu me via, chorando, desejando o parto... Não queria minhas meninas prematurinhas, mas a gravidez tomou um certo ar de tortura... A parte de deitar de um só lado, não conseguir levantar sozinha, comer bem pouquinho porque não cabia com ida eu não me importava, mas a coceira de eu chegar a arrancar sangue da pele me enlouquecia...
A essa altura eu já havia compreendido que iria ser uma mãe de UTI. Ainda que eu conseguisse levar a gravidez até as 37 semanas, a Beatriz seria muito pequena, um bebê PIG - pequeno para idade gestacional - podendo ou não ter sequelas ou disfunções. Pesquisei bastante sobre UTIs neo, conversei com a minha médica, discuti bastante o assunto com meu marido. Por fim decidimos ter as meninas em um hospital que não faz método canguru, que tem acesso restrito dos pais ao bebê, mas no qual a minha médica se sentia bem, além de ter uma equipe na qual ela confia, afinal o parto era de risco e para que a Beatriz conseguisse chegar à UTI ela precisava primeiro sobreviver ao nascimento. Essa preparação foi fundamental para o período no hospital. Acredito que a minha aceitação e compreensão de tudo que aconteceu após o parto seria mais difícil sem isso.
Com 35/4 semanas fui para a última ecografia. As meninas estavam bem, as placentas maduras grau II-B, os fluxos sanguíneos ótimos. Eu poderia sustentar a gravidez por mais duas semanas tranquilamente e talvez a Beatriz nem fosse pra UTI, talvez ela ficasse internada no berçário! Do laboratório fui direto para o consultório da minha médica para entregar os exames e conversar com ela pois eu acreditava que estava perdendo o tampão e sentia que as contrações de Braxton Hicks estavam mais fortes e frequentes, (numa frequência de quase meia em meia hora, às vezes de 2 em 2 minutos, às vezes paravam por um longo tempo). É, eu estava entrando em trabalho de parto. Minha médica marcou o parto para o dia seguinte, e dia 4/5/11 às 17:25h começou a minha segunda vida.
A Carol veio ao mundo chorando, às 17:25h com 2,480kg e 47cm, perfeita, linda e carequinha. Toda a equipe riu, o clima na sala estava ótimo e o parto indo super bem. Às 17:26h a Beatriz chegou com 1,630kg e 38cm, perfeita, linda e carequinha, mas molinha e sem qualquer reação. Um silêncio angustiante tomou conta da sala de parto e eu só vi a pediatra sair correndo com a minha pequena. O Marcelo e eu sabíamos que isso poderia acontecer. Fizemos um curso para pais e tínhamos consciência das manobras de salvamento. Ficamos esperando ansiosos pelas meninas e nada. O hospital estava uma confusão, muitos partos acontecendo ao mesmo tempo. Depois de um tempo trouxeram a Carol para nós conhecermos e nada da Beatriz, perguntei quanto tempo tinha passado e o Marcelo disse que fazia só 5 minutos, que eu estava sem noção do tempo por causa da anestesia. E era verdade, já tinha passado quase 15 minutos, mas eu acreditei nele, se ele estava calmo, eu ficaria calma. O Ma foi de uma sensibilidade maravilhosa, ele viu as meninas nascendo e viu a Beatriz mole, segurou o choro por mim, ficou ao meu lado dizendo que me amava e me dando carinho. Mas perceberam que ele estava há muito tempo na sala e o retiraram. Depois de muito tempo (que eu grogue da anestesia não sei quanto tempo foi) finalmente me trouxeram a Bê. A pediatra me explicou que por causa do peso dela ela iria para a UTI, e que depois no quarto conversaria comigo.
Me levaram para o quarto e o Marcelo e a minha mãe foram para a UTI ver a Beatriz enquanto eu recebia a Carol. Foi meio estranho conhecermos nossas filhas separados, todo aquele sonho de parto perfeito, do casal recebendo o bebê rodeado da família foi transformado em um parto tenso e em uma ansiedade de saber se estava tudo bem com o bebê que ainda não tínhamos visto. Fiquei no hospital com a Carol por 5 dias esperando ela começar a engordar. Com as enfermeiras espetando a coitadinha de 3h em 3h para avaliar a glicemia e dando complemento de Nan. Finalmente, quando meu leite desceu bem, comecei a também esgotar leite para a Beatriz.
Mesmo tendo me preparado foi difícil entrar na UTI pela primeira vez e ver minha pequena na incubadora sem poder tomá-la em meus braços e beijá-la. Confesso que amamentar, beijar e ninar uma e não poder fazer o mesmo com a outra foi frustrante e me abalou muito, ainda que eu soubesse que isso iria acontecer. Durante o final da gravidez eu havia lido um artigo que dizia que você deve evitar chorar dentro da UTI, pelo seu bebê e pelas outras mães, afinal todos estão fragilizados. Mas acho que a mamãe da bebê que estava ao lado da Bê não leu o mesmo artigo, pois ela desandou a chorar, e eu também não aguentei e desabei. Mas eu precisava desabar. Suportei estoicamente cada má notícia que recebi durante a gravidez (não queria ficar nervosa e afetar as meninas), suportei os cinco meses de repouso relativo e os dois de repouso absoluto, ter que esperar meu marido voltar do trabalho para me levar ao banheiro e me dar comida, lidei com o medo de um parto prematuro de emergência e, por fim, a PUPP no último mês que me deixou quase louca. Eu racionalizei cada momento, contava as semanas, 'mais uma, mais uma, ao menos mais uma', calculava as probabilidades de sobrevivência das meninas a cada semana que passava. Eu realmente havia chegado ao ápice do suportável e não aguentei mais: chorei, chorei e chorei.
Os meus sentimentos eram confusos, me sentia vitoriosa pela gravidez ter ido até as 36 semanas e só a Beatriz precisar da UTI. Por outro lado me culpava por ter ficado feliz com o parto, por ter finalmente conhecido minhas meninas e me livrado da PUPP. Como é que eu podia ter ficado feliz se a minha pequenininha estava longe de mim? Se ela só podia ouvir minha voz e sentir meu amor por pequenas duas meias horas por dia? Meu marido me dava apoio e me lembrava que eu tinha o direito de ter ficado feliz, que o parto tinha sido um momento tão esperado, que eu já estava sofrendo demais com o barrigão e a alergia e que daqui a pouco teríamos a Bê em casa.
E para a nossa felicidade a Bê era a princesinha da UTI, perfeitinha (mesmo sem a unha do mindinho do pé!), sem nenhuma anomalia, calminha. Os médicos sempre falavam que era só engordar, ter paciência e esperar, que estava tudo bem com a minha 'come dorme'. Nos primeiros cinco dias eu deixava a Carol no berçário e ia visitar a Beatriz, nos sete dias seguintes eu deixava a Ól à tarde com a minha mãe e à noite meu marido ia visitá-la. No 13° dia eu pude finalmente pegar a minha Beatriz no colo, cheirar, beijar, tentar acordar, ensinar a mamar. Daí até o 17° dia eu ia à tarde e à noite ver minha menininha. Pelas regras do hospital eu poderia ir de 3h em 3h para ensinar a Bê mamar mas onde eu iria deixar a Ól? O hospital não tinha um local adequado para as mães, nem uma salinha com TV ou sofás confortáveis, onde eu não ficasse à toa remoendo a saudade das minhas meninas e a culpa de eu mesma não ser duas. E eu também não podia ficar no hospital com a Carol esperando pela visita. Eu chorava a noite inteira abraçada com uma pequena pensando na outra. Eu ia para o hospital com o coração apertado por ter que deixar uma para ver a outra... Fui julgada na UTI por não ir nos dois horários do dia, julgada por não ficar plantada numa poltrona desconfortável esperando para entrar de 3h em 3h. Afinal quem deveria ser minha prioridade? A pequena que precisava de mim na UTI ou a que estava saudável em casa? As duas, oras! A falha era do hospital que não me permitia acompanhar as duas dignamente, e não moral minha. Se ao menos os horários não fossem tão restritivos eu poderia passar a tarde e a noite inteiras com uma e a madrugada e a manhã com a outra. Além disso, como assim a minha filha não estava sendo assistida pela mãe? E o pai não conta? Nós nos revezávamos não só por uma questão prática, mas principalmente por AMOR. Pelo amor que ambos sentimos pelas nossas filhas entendemos que nós dois tínhamos o direito de acompanhar a Bê no hospital e como a Ól estava em casa só com revezamento isso era possível. Isso me magoou muito. As falhas me revoltaram e me revoltam até hoje. Houveram também outros problemas, mas eles não cabem aqui, outra hora eu falo sobre isso.
Finalmente, depois de 17 dias, tive minhas bonequinhas juntas nos meus braços. Eu achava que estava preparada para a UTI e para cuidar de dois bebês. Que redondíssimosenganos! rssss O que eu não contava em relação à UTI era o amor de mãe, que sufoca a gente de saudade e culpa. E cuidar das meninas!? Tivemos que aprender a cuidar de duas crianças, administrar a casa, os horários. Morria de medo de ficar sozinha com elas... e se uma vomitasse enquanto eu trocava fraldas da outra? O que fazer com as duas chorando ao mesmo tempo? Mas tudo a gente aprende, se adapta, acostuma. Hoje eu e meu marido, que é o melhor companheiro que eu poderia ter, damos conta do recado muito bem. Batemos cabeça sim, demos mamá para a menina errada, trocamos duas vezes a fralda da mesma criança, brigamos - de tanto sono - no meio da noite tentando decidir quem cuidava de quem. Mas sobrevivemos. Felizmente tivemos bastante ajuda da família, avôs e avós de prontidão para ajudar nos primeiros meses.
Agora a vida continua, dia após dia, mês após mês e, daqui a pouquinho, ano após ano. E tudo isso eu continuo depois... Afinal esse post já ficouenoooorme! E obrigada por ler até aqui! rssss

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